O Ponto Zero





   Em uma caverna profunda da Transilvânia, um grupo de cientistas e exploradores trabalham freneticamente, cada um atarefado em sua especialidade O que teriam descoberto ali? Para causar tal alvoroço científico que nem mesmo a descoberta das pirâmides superou?
   Descendo a imensa caverna horizontal, um andarilho desavisado, que gostava de percorrer a floresta, vai espreitando, curioso, o que aquele grupo de cientistas fazia.
   - Isso está errado, quem deixou esse homem entrar? - Pergunta a cientista
   - Deixa ele para lá, o nosso trabalho é a prioridade máxima! - respondeu, apressado, o cientista chefe.
 O velho andarilho observava os cientistas medindo, incessantemente uma parede na rocha.
   - Isso é incrível! Eles vivem exclusivamente em um ambiente em duas dimensões! - Disse um explorador.
  - Diário gravado: Minha descoberta vai revolucionar a biologia como conhecemos. Descobri uma comunidade de seres que ficam gravados na parede como desenho... na verdade eles lembram mesmo aqueles desenhos "palito" que costumamos representar o ser humano simplificadamente. A conclusão a que chegamos é que são seres de duas dimensões: altura e largura, eles desconhecem a profundidade.
  Os cientistas anotam muitos dados enquanto o intruso tolerado assiste confuso.
   Um dos exploradores propõe jogar água na rocha.  Isso é feito.
   - Diário: Uma experiência jogando água na rocha foi realizada. As criaturas não esboçam nenhuma reação no momento em que a água toca a parede mas, alguns instantes depois, eles começam a se debater, como que, para se secarem. Pelo visto, foi quando parte da água foi absorvida pela rocha.
   - Vamos jogar água na parte de cima dessa vez, que tal?
   Quanto isso foi feito a água começou a escorrer pela parede.
   - Incrível! Eles estão olhando para cima!
  - Diário: Os seres que eu descobri possuem visão monocular, apenas um olho, que se move pela circunferência da cabeça. Eles são incapazes de virar, como nós fazemos, apenas se locomovem para a esquerda ou para a direita, movendo o olho para a direção que pretendem ir. Experimentamos jogar água acima da posição deles. Eles olham para cima e parecem agora estar se locomovendo pela parede da rocha. Isso nos revelou uma área nova no território 2D das criaturas... são diversos desenhos em fora da letra "C", os últimos estão um em cima do outro em até três andares. Mais dois Cs estão na frente mas não empilhados. As primeiras criaturas a chegarem pularam os primeiros Cs e entraram nos últimos. Os que entraram nos Cs mais acima deram um grande salto. Pelo visto a capacidade deles de saltar é grande, uma vez que nenhum objeto 2D do mundo deles pode ser desviado, apenas pulado; faz muito sentido. Parece que é uma espécie de vila e eles estão se abrigando da água.
   - Será que eles reagem ao barulho? - Perguntou um cientista.   Então começaram a algazarra. Os seres em 2D ficaram assustados e olhando, confusos, sem encontrar a fonte do barulho.
  - Sim... isso...
  - O que concluiu chefe?
  - O som se propaga pela rocha, então chega até eles. A água só chega até eles depois que é absorvida pela rocha. Acredito que nós podemos nos comunicar com eles. Sendo seres em duas dimensões, onde a profundidade é inexistente, eu penso que devemos pensar que toda a posição na frente da parede rochosa, posição onde nós estamos, é de profundidade maior que zero, e zero seria a medida de profundidade onde os seres vivem. 
  - Exato, e toda a posição atrás da rocha, seria de profundidade menor que zero... -1, -2.. e assim por diante.
  - O que tem atrás rocha, "Einstein"?
  - Er... rocha?
  - Sim, então sua brilhante dedução é totalemnte irrelevante para nós. É importante a nossa posição, de profundidade maior que zero, e a posição das criaturas, o ponto zero. A profundidade negativa não nos importa. 
   - E se eu tocar na rocha?
  - Você tocaria na profundidade de medida 1. Ou seja, isso não os afetaria.
   A cientista, silenciosamente, bate o dedo bem em cima de uma das criaturas, que não demonstram nenhuma reação.  
   - Incrível! O senhor está certo, chefe!
  A cientista risca a rocha com um canivete e põe o dedo no risco. As criaturas reagem, curiosas, como se estivessem vendo um UFO.
Então a cientista encontra uma fresta na rocha e enfia o dedo. Nesse instante, algo dispara. Visivelmente eram dois traços em "V", farpados, logo abaixo da fenda, e prendem o dedo da moça na fresta.
  - Socorro, algo prendeu meu dedo! Me ajudem! - A cientista entra em pânico, enquanto seus colegas tentam soltá-la. O que é inútil pois o que está prendendo o dedo da moça é um objeto em 2D, do mundo das criaturas, na profundidade Zero.
  As criaturas, tem uma reação estranha ao acontecimento, um silêncio. Uma delas, a maior, levanta um objeto do chão, um risco retilíneo e o segura, indo em direção à fresta. 
  A criatura decepa o dedo da cientista, que grita em agonia e sai correndo dali, assustada, com um dedo decepado. Uma grande mancha escarlate, o sangue da cientista, fica chapado, em forma 2D, escorrendo pela parede rochosa. As criaturas se deliciam com o banquete rubro, enquanto o cientista chefe, entusiasmado, comenta com o andarilho, sem notar que era um intruso:
  - Incrível a descoberta não é? As criaturas só podem interagir conosco quando estamos na medida zero de profundidade em relação ao mundo deles. Isso me faz pensar se essas aparições que o povo fala que vê são mesmo fantasmas e demônios ou algo mais sinistro. Criaturas de um mundo 4D, 5D ou até mais, no ponto zero, nos estudando, ou se divertindo em nos assustar.
  O andarilho olha para o cientista e, pasmado, nada tem a dizer.



Nenhum comentário:

Fernando Vrech. Imagens de tema por andynwt. Tecnologia do Blogger.