Dê vida à sua História!



   Quando escrevemos uma história fictícia, estamos escrevendo fantasia. Pode ser a história mais séria do mundo, com cenários normais, personagens normais... é fantasia, no sentido de que é uma história imaginada; e uma história fictícia está inserida dentro de um universo fictício. E esse universo precisa estar vivo, precisa ser surpreendente, não pode ser um universo chato e previsível.
   Em uma história do gênero fantasia mesmo, aquelas com seres mágicos e lugares míticos, esse universo precisa ser muito bem construído, mas a necessidade de dar vida a um universo fantasioso é mais óbvio. Agora em uma história mais próxima da realidade, digamos um drama, a necessidade de construir bem o universo fictício, embora tão importante quanto uma história mais fantasiosa, não é tão óbvio e pode acabar sendo negligenciada pelo escritor.
   Mas, independente do grau de fantasia, como dar mais vida a uma história?
   Basicamente, temos que ter ciência de que, desde um conto curto até um longo romance, uma história contém, inevitavelmente, muitas história dentro dela. Além da trama principal, cada personagem, cada lugar, cada objeto... tem uma história. Embora não seja preciso, nem muito estético, ficar contando de forma metódica a história de cada personagem, lugar e objeto, é importante estar ciente dessas pequenas histórias. Isso tornará os personagens mais interessantes e os diálogos mais ricos. E assim, o universo fictício da sua história ganhará vida.
   Você precisará inventar essas mini-histórias, dentro da história principal, até para tornar as motivações de seus personagens mais críveis, mesmo que tais histórias não apareçam no texto final. Porque elas poderão ficar nas entrelinhas, e o leitor vai inferindo elas conforme lê.
  Você precisa saber qual é a cultura dos personagens, suas habilidades, seus defeitos, suas experiências. Ou como é o cenário, o nível de urbanização, a cultura dos moradores. Ou porque aquele objeto existe, para que serve. Essas pequenas histórias servem para tornar a trama mais realista, afinal, no mundo real, tudo tem uma história por trás, não é verdade?
  Para conseguir dar mais vida à sua história, criando essas pequenas histórias paralelas dentro da história principal, as seguintes dicas podem ser de ajuda.

   Planeje o universo fictício da sua história...
  Invente um mapa, ou, se a sua história se passa em um lugar real, consiga um mapa do local. Determine onde os personagens moram, o que fazem por esse mapa, onde o conflito acontece, qual é a fauna e a flora, que personagens secundários vivem por lá, e assim por diante. Veja um exemplo:

    No deserto vive uma menina com sua família.
   "Tá, e daí," você poderá pensar assim quando lê isso. Você demandará informações mais interessantes nessa história. Porque ela é chata, sem vida. Mas veja a diferença quando planejamos melhor o universo em que a história se passa.

   No deserto do Saara vive uma menina com sua família. Todas as manhãs, a menina gosta percorrer uns três quilômetros até um oásis próximo, onde ela colhe tâmaras silvestres. Mas em uma dessas manhãs...
  Perceba como a história ficou mais interessante dentro de um universo planejado. Também como ficou mais fácil criarmos uma boa trama para que a história siga em frente. Quando planejamos bem o universo da história, não só damos mais vida a ela como a própria história flui melhor e fica mais crível para o leitor.

  Faça seu personagem contar histórias, compartilhar suas experiências.
   Uma maneira muito simples de dar vida a uma história é fazer os personagens contar histórias sobre sua vida, onde cresceu, situações pelas quais ele passou. Veja a diferença:

  "Amigo, não é uma boa ideia viajar sem conhecer para onde vai."
  Tá, mas, de onde esse personagem tirou isso? Como ele sabe que não é uma boa ideia? Veja como fica muito mais interessante, rico e persuasivo, se o personagem estiver inserido em universo rico e conta mais sobre suas experiências.

  "Amigo, não é uma boa ideia viajar sem conhecer para onde vai. Eu cresci em São Paulo, um local muito urbano. Quando eu resolvi ir pescar, em um sítio no interior, os mosquitos acabaram comigo e as minhas pernas ficaram todas cortadas pela grama alta. Se eu tivesse estudado mais sobre o ambiente rural, eu teria levado calças compridas e um bom repelente. Portanto, estude bem o lugar para onde vai viajar para não fazer das suas férias um sofrimento."

   Perceba que agora o personagem tem toda uma história de vida que, tendo sido criada antes, serviu para criar um diálogo muito mais crível e persuasivo.
   Esse método de fazer o próprio personagem contar suas histórias é muito usado pelos escritores quando querem estender mais o universo onde se passa suas tramas, criando muitos locais e acontecimentos secundários que, mesmo sendo apenas citados por algum personagem, dão toda aquela vida para a história.

   Como toda a forma de arte, a beleza de uma história também está contida nos detalhes. Quando tudo - os personagens, locais e objetos - em nossa história também possuem uma história, esses detalhes darão muito mais vida para o universo em que a nossa história se passa e até facilitarão para que a história siga em frente. Portanto, antes de, simplesmente, começar a escrever sua história, crie todo o universo no qual sua história acontece.


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